Bloco de viagens

Frio e neve no amanhecer em Lyon, dia 8 de janeiro de 2024, e mesmo o vento fraco fazia a sensação térmica se tornar ainda mais gelada. Os termômetros marcavam 0º grau e a sensação térmica deveria estar em torno de -4°, mas nem por isso deixamos de seguir a nossa programação. Fomos de metrô da Estação Lyon Perrache, bem próxima do nosso hotel, até a Estação de Lyon-Part-Dieu, de onde partiria nosso trem para nova aventura de conhecer mais uma cidadela medieval francesa totalmente preservada e ainda habitada.

Pérouges fica a cerca de 40 minutos de Lyon em trem regional, com as passagens a 32,20 Euros para o casal, ida e volta. O destino final da linha é em Ambériu-en-Bugey, mas o ponto de desembarque é no meio do caminho, em Meximieux, na região de Auvergne-Rhône-Alpes, distante 1,5 quilômetro de Pérouges. 

Ao descer na Gare de Meximieux, fique atento porque não existe nenhuma sinalização indicando qual a direção a seguir. Por intuição, seguimos em frente, na direção ao centro onde esperávamos encontrar alguma indicação. 

Chegamos próximo da uma da tarde e, em razão do almoço e do frio intenso, havia poucas pessoas nas ruas da cidade de Meximieux, que tem menos de 10 mil moradores. Encontramos dois jovens na rua e eles mostraram o caminho que deveríamos seguir. Depois dos 700 metros de caminhada é possível avistar as casas de Pérouges, localizada em uma colina. No acesso por onde entramos, um mapa revelava as ruas da cidadela, que conta com 1,2 mil moradores. 

Das quase 500 casas da cidadela, pelo menos 80 casas foram classificadas ou estão inscritas no registro de Monumentos Históricos da França – onde também estão outras maravilhas como Carcassonne, Provins, Monte Saint-Michel, Castelo do Haut-Koenigsbourg, Castelo de Pierrofonds, Castelo de Castelnaud, Castelo de Peyrepertuse e Castelo de Bonaguil. Pérouges teria sido fundada por italianos de Perugia e a maioria das casas foi erguida nos séculos XII a XV.

Com o selo da Les Plus Beaux Villages de France – As aldeias mais bonitas da França -, em menos de duas horas é possível percorrer com calma todas as ruas de Pérouges. Les Plus é uma associação e uma marca de certificação, criada em 1982, para promover o turismo nas cidadelas. Desde 2023 conta com uma rede de 176 membros – aldeias, pequenos municípios -, distribuídos por 70 departamentos e 14 regiões francesas.

Nós não demoramos duas horas para percorrer a cidadela, porque estava realmente muito frio e praticamente tudo fechado, inclusive a Igreja de Santa Maria Madalena, que já serviu de fortaleza local. Havia um pouco de neve acumulada num tronco de madeira, o que permitiu que a Rossani Thomas deixasse o seu nome brevemente eternizado até o degelo ou compactado sobre novas camadas de neve, o que provavelmente aconteceu já que nos dias seguintes a formação de neve foi intensa em praticamente toda a França.

Em Pérouges, é surpreendente a preservação da maioria das casas. A sensação é de que o visitante está fazendo parte de um filme e isso é verdadeiro, porque uma das versões de Os Três Mosqueteiros teve a cidadela como cenário. A aldeia tem 19 quilômetros quadrados e o ponto central é a Place du Tilleul, a principal praça de Pérouges e bem próxima da Hostellerie du Vieux Pérouges, o único restaurante aberto no dia da nossa visita. 

Depois de percorrer praticamente duas vezes todas as ruelas, resolvemos aproveitar para fugir por um tempo do frio e saborear a tradicional Gallete de Pérouges, na Hostellerie. Uma grande lareira aquecia o ambiente, onde além do restaurante também funciona um hotel. Na primavera e no verão, com certeza, deve ser difícil caminhar pelas estreitas ruas e conseguir um lugar nos restaurantes, mas quando fomos estava muito tranquilo. Além de nós, havia apenas mais dois casais no local.

A Gallete é uma pizza doce, com massa de brioche, manteiga e açúcar que fica caramelizada durante o cozimento. A Gallete foi criada por Marie-Louise Thibaut e o seu marido a partir de 1912, quando a Hostellerie foi aberta. 

A Rossani, que adora doces, aprovou mais esse clássico da culinária francesa. Cinco Galletes e quatro taças de vinho saíram por 41,00 Euros, mas como sempre lembra a minha parceira de viagens, valeu a pena, porque, afinal, quando iremos visitar novamente Pérouges. Foi o que ela me disse, e estava certa, quando gastamos 74,00 Euros por duas taças de vinho e duas omeletes, especialidade do célebre restaurante La Mère Poulard, em Mont-Saint-Michel, em 2018. Essa história também está no blog Bloco de Viagens dos Thomas. 

Jornada cumprida, voltamos para Lyon no trem das 17h, felizes em colocar na nossa história de viagens mais uma cidadela medieval francesa. Já visitamos Carcassonne, Saint-Paul-de-Vence, Èze-Village, Gorbio, Haut-de-Cagnes, Saint-Émilion, Saint-Michel, Provins, todas elas registradas aqui no Bloco de Viagens dos Thomas, onde também queremos registrar muitos outros lugares inesquecíveis.