Rouen e a incrível história da heroína francesa Joana d`Arc

Rouen está a 143 quilômetros de trem de Paris. É possível sair da Gare de Saint-Lazare, na capital francesa, por volta das 9h e retornar da Gare Rouen Rive Droite depois das 18h. A passagem só de ida custa 50,40 Euro para o casal. A viagem dura cerca de 1h40min em trem comum nos dois sentidos. Decidimos ficar três dias na Capital da Alta Normandia, chegando no início da noite do dia 26/12/23 e partindo para Paris/Nice na manhã do dia 29/12/23.

A Gare de Rouen fica próxima do Centro Histórico. A cidade tem excelente sinalização turística, facilitando o acesso a todos os pontos interessantes.

O Rio Sena, que tem mais de 750 quilômetros de extensão, corta Rouen e deságua em Le Havre no Canal da Mancha do Oceano Atlântico. 

Capital da Alta Normandia com pouco mais de 115 mil habitantes, no departamento da Seine-Maritime, Rouen tem uma história  de muitos conflitos, por ter sido alvo constante de invasões. Foi construída pelo Império Romano e depois enfrentou ataques dos vikings escandinavos,  os normandos.

Em busca de proteção, o rei da França fez um acordo e passou as terras para os vikings, dando origem à Normandia. É uma cidade para ser percorrida com caminhadas, porque o Centro Histórico é formado por ruas estreitas e muitos prédios em estilo enxaimel.

Heroína francesa Joana d`Arc

Mas a história mais extraordinária envolve a Guerra dos Cem Anos, quando os ingleses conquistaram a região, e catapulta uma personagem surpreendente e intrigante, que foi a jovem camponesa Joana d`Arc, executada à morte por heresia em uma fogueira em 1431 depois de participar dos combates. 

Rouen preserva todo esse contexto. No local onde a heroína francesa foi queimada viva construíram uma igreja em sua homenagem próximo à Praça do Velho Mercado, logo transformada em uma polêmica na cidade. É que o prédio, inaugurado em 1979, é futurista e não tem nada a ver com a arquitetura normanda antiga nas proximidades e também com as demais igrejas de Rouen, em estilo gótico. 

Mesmo assim, é um dos pontos obrigatórios de visita, porque o prédio é inspirado no desenho de um barco invertido e nas chamas que consumiram o corpo de Joana d`Arc. As informações turísticas garantem que os vitrais que adornam a igreja são remanescentes da antiga Igreja de Saint-Vicente, do século XVI, e destruída durante os ataques na Segunda Guerra Mundial. Uma cruz com mais de 10 metros de altura e uma estátua marcam o local onde Joana d`Arc foi executada.

Historial Joana d`Arc

Na lateral da Catedral de Notre-Dame fica o Historial Joana d`Arc, que vale a pena ser visitado. O bilhete por pessoa custa 11 Euros, com direito ao áudio-guia. É o Palácio Episcopal, onde segundo a história, teria acontecido o julgamento que condenou à morte Joana d`Arc em 1431 e, depois, em 1456, o processo foi revisto pela Igreja Católica e ela acabou inocentada.

A condenação de Joana d’Arc é tido como o primeiro julgamento político da França embora tenha acontecido durante o terrível e vergonhoso período da Inquisição da Igreja Católica.

A visita ao Historial recria o julgamento de Joana d`Arc, com  projeções de vídeo nas paredes do prédio medieval que simulam o julgamento e o momento da condenação. A cada sala visitada, as interpretações e depoimentos dos integrantes do júri são apresentados, o que mantém o visitante ligado na história. O percurso, em torno de uma hora, leva do julgamento da heroína francesa até a condenação e a morte na fogueira e a revisão do processo que foi anulado e considerado um grande erro da Igreja Católica. 

Durante toda a narração, a Joana d` Ara é mostrada como vítima de integrantes da Igreja que não aceitavam serem contrariados por uma mulher, pouco letrada, usando roupas de homem, cabelos cortados e que não se curvava a seus algozes. A jovem mártir é considerada padroeira da França.

Catedral Notre-Dame

A imponente Catedral Notre-Dame chama a atenção de diversos pontos de Rouen. Da janela do nosso hotel – Ibis Styles Rouen Centre Cathedrale – era possível visualizar torres da igreja. A Catedral começou a ser construída em 1030 e a parte gótica em 1145 e só foi concluída em 1506. É um monumento histórico desde 1862.

Os restos mortais do rei inglês Ricardo I, conhecido como Ricardo Coração de Leão e como um grande guerreiro, estão em uma urna dentro da Catedral. 

É a Catedral mais alta da França desde a reconstrução de seu pináculo de ferro fundido, em 1876, atingindo 151 metros de altura com um comprimento total de 144 metros. Uma série de quadros do pintor impressionista Claude Monet contribuem para deixar a igreja ainda mais fascinante.

Atualmente, uma parte da Catedral está em obras de restauração, mas chama a atenção, contudo, que a igreja não conta com uma iluminação noturna especial, valorizando toda a beleza arquitetônica.

Da janela do nosso quarto no hotel era possível avistar as torres da Catedral.

Segunda Guerra Mundial

Rouen sofreu muitos prejuízos durante a II Guerra Mundial. Em 1940, o fogo decorrente dos ataques atingiu o Centro Histórico e, em 1945, os bombardeios realizados pela Real Força Aérea inglesa e a fuga dos soldados alemães afetaram a Catedral e o Palácio da Justiça. Mais de 3,5 mil pessoas morreram e cerca de 9,5 mil prédios foram destruídos. A cidade, contudo, se reergueu, retrabalhando toda a arquitetura tradicional que caracteriza Rouen  desde a Idade Média.

Torre Joana d`Arc

Outro ponto que merece ser visitado é a Torre Joana d`Arc, que era originalmente a torre principal do castelo construído pelo rei francês Philippe Auguste no início do século XIII. Torre circular maciça em calcário local, tem 30 metros de altura e 14 metros de diâmetro. Perfurado por raras e estreitas frestas, é composto por quatro pisos, dois dos quais abobadados sobre abóbadas nervuradas. A última dá acesso a um passadiço com tapumes de madeira. Convertido em museu, abriga coleções de objetos e obras que remontam a história da Donzela (como Joana d’Arc era conhecida em sua época, por se tratar de uma antiga profecia de que uma donzela salvaria a França), como uma pintura de Charles-Henri Michel, A Última Comunhão de Joana d’Arc.

Grande relógio

O Centro Histórico conta com cerca de 2 mil casas em estilo enxaimel. Não deixe de visitar a Rue du Gros Horloge (rua do Grande Relógio), que liga a Catedral à praça do Velho Mercado e a Igreja de Joana d`Arc. 

O relógio astronômico  instalado de um lado a outro da rua, considerado um dos mais antigos em atividade da França, foi construído em 1389. Faz parte da relação dos relógios históricos mais bonitos da Europa. E está instalado em um arco renascentista. O relógio foi  restaurado em 2006. Bem próximo do prédio fica o Monoprix, uma loja de departamentos com supermercado, super tradicional na França e com preços bem atrativos.

Igreja Saint-Maclou

Localizada no Centro Histórico, a Igreja Saint-Maclou foi construída entre 1437 e 1517. É apontada como uma obra prima do estilo gótico. Foi erguida em uma freguesia bastante povoada  na Idade Média e fortemente afetada pela peste bubônica entre  1347 e 1353. Por conta disso foi erguido no local um cemitério galeria, considerado atualmente um dos últimos existentes na França. O local estava lotado na noite que visitamos, por conta de uma instalação de arte interativa de luzes e sons.

Abadia de Saint-Ouen

Infelizmente, não deu para visitarmos a Abadia de Saint-Ouen, fundada no século VI, porque o prédio está em obras de restauração. Ela foi dedicada ao bispo de Rouen, Saint Ouen, que foi sepultado na igreja em 1680.  A abadia tem 33 metros de altura e 137 metros de comprimento.

As viagens também têm seus perrengues. Numa das noites em Rouen, resolvemos comer uma pizza num dos restaurantes próximos à Igreja Saint-Maclou. A pizza era daquelas pré-prontas e foi aquecida no microondas e o vinho era bem ruim.

Na primeira noite em Rouen, debaixo de uma chuva leve e persistente, aproveitamos para comer um sanduíche, com um copo de cerveja, em um ponto especial próximo da Catedral.


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